quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Estações


Eu sou apenas uma pequena folha, que faz parte de uma grande árvore.
Um árvore com raizes fortes e tronco frondoso, galhos espessos e uma grande copa.
Sou pequena se comparada com minhas companheiras, que são mais bonitas e bem mais verdes que eu.
Estou em um pequeno galho, separada das demais, e as vezes me sinto triste por estar tão só, mesmo que seja no meio das outras.
O vento bate em mim, fazendo com que eu balance conforme sua dança, me tornando apenas desafortunado.
Mas eu sei, pelo menos eu tento ser, diferente.
Continuar mesmo que o vento me mande para trás, mesmo que a chuva, molhe meu corpo além do nescessário, mesmo que o sol maltrate minha alma.
Me sinto tão pequena, tão frágil, mas sentir isso, não me torna menos importante não é?
Só me torna mais difícil de ser notada aos olhos desatentos de quem observa a bela árvore.
Então eu olho para baixo, a queda é grande, mas passou-se apenas a primavera.
Percebo que tudo está mais difícil, o calor aumenta, preciso trabalhar mais.
Tanto para mim, quanto para minhas companheiras, e para minha dona, a árvore.
Sei que se eu não trabalhar, irá fazer uma grande diferença, que só será notada, se eu priva-los de minhas consciência.
Mas eu realmente sei? Realmente faria a diferença?
Se eu sumisse agora, se o vento me levasse para longe da árvore, se a forte chuva me arrancasse do meu pequeno galho.
Eu realmente faria a diferença? De todas as outras folhas, eu faria a diferença?
Não sei, sinto minha presença desnecessária e obsoleta.
Sou apenas uma pequena folha, deveria pensar mesmo assim?
Não me lembro, mas sei que devo trabalhar, não por mim, porque sozinho, não sou nada, devo trabalhar por elas, para a grande árvore e para quem nos olha.
Ninguém quer ver uma árvore feia, sem folhas e sem vida.
Querem apenas nos ver, mas sem prestar atenção, aproveitar de nossa sombra, sem perguntar pelo que passamos.
Devo ser assim, pelos outros? Afinal, não me notam, mas ainda estou ali, faço parte dali... Não faço?
Então fico pensativo, pensar tanto não faz bem, eu preciso trabalhar.
Então eu olho para cima, e vejo o sol escaldante, mas passou-se apenas o verão.
Alguma coisa começa a me incomodar.
Mesmo sendo eu, a menor das folhas, sinto isso.
Sou respeitada pelas demais, mas penso se a grande árvore não me dera uma maldição, sabe, ficar sozinha num galho fraco, ser apenas uma ligação não
pretendida. As vezes penso que sou abençoada, por poder olhar as demais, e admira-las, por todos os dias de minha vida.
Me sinto como o elo fraco, não sei bem exatamente o que eu sou, não sei se posso continuar, tanta chuva, tanto sol, tão pouco reconhecimento.
QUem sabe sou mesmo o elo fraco, algo que não deveria estar ali, algo que só aumenta a distancia entre a Grande Árvore e a perfeição.
Mas, eu também trabalho, mesmo com a chuva e sol, eu também trabalho, também admiro, olham para mim também, mesmo que não me notem no primeiro momento.
Achando engraçado o fato de eu estar sozinha e longe de minhas irmãs.
Mas me apeguei muito ao galho em que estou, ele pode ser fraco e um pouco feio. Mas, é o meu galho, quem me suportou durante esses meses, durante os momentos
difícies e até pode contemplar a mais bela vista que eu tenho.
Estou aqui, felizmente, sou o elo fraco, mas ainda sim, sou um elo.
Com o passar do tempo, sinto que a Grande Árvore não precisa mais de mim.
Mas porque? Está fraca demais para continuar aguentando? Nos levando em cima dela?
Ou ela se cansou de nós?
Vejo minhas irmãs caindo, ao meu lado, em direção ao chão. Todas belas, agora com uma aparência de morte, um pouco enegrecidas.
E foi assim, durante meses, perdendo uma após a outra. Perdendo quem nunca queriamos perder.
Todas tombaram, e eu percebi, que era a última na Grande Árvore.
Todos que passavam por mim, ficavam a olhar a Árvore, não por minha causa.
Ficavam a olha-la, para dizer como um dia ja foi bela e agora estava morta.
Não me notavam, apesar de eu ser a única folha, não me notavam.
Eu senti algo morrendo dentro de mim, pensei que Grande Árvore, iria durar para sempre, que iria ser perfeita para sempre.
Mas ela não era exatamente como eu pensava que era.
Meu galho, já fraco, e um pouco quebrado, quase tombando e me largando no chão, uma pequena folha, enegrecida pela dor.
E eu notei, da pior forma, que a Grande Árvore não era quem eu pensava, mas também notei, que eu era parte dela.
E no final, não sabia quem eu realmente era.
Nem sabia o que eu realmente fora.
Uma delicada brisa, me tirou do galho, fazendo eu ir lentamente de encontro ao chão.
Dali eu vi, que haviam muitas outras folhas que eu não conhecera, muitos outros galhos, quem nem se quer havia ouvido falar.
Gostaria de te-los conhecido.
Então eu fecho os olhos, e me sinto indiferente, mas passou-se apenas minha vida inteira.
Uma vida em que eu lamentei e refleti, em todos os momentos.
E foi quando a última brisa percorreu pelo meu corpo que eu percebi.
Que o inverno não chegaria para mim.

Por: Caio Barros.

Parabéns ao meu jovem amigo por esse belo escrito, é um prazer e uma honra estar postando isso aqui Caio!

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